quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Não começa aqui

  A pressa começa para aparecer, enfim, o ser. O que eu tanto esperei, talvez, foi que chegasse logo. Sem ansiedade. Maldade. Sua e minha, que queríamos o futuro. Está surdo? Que queríamos o mundo. Imundo. Não sairemos de dentro de nós. O nosso planeta é veloz e falo que talvez não caiba tantos sonhos. O nosso mundo é rápido e talvez não tenhamos tempo de correr no espaço em que nos acomodamos. Espalha, a poeira que me prende à sujeira da sua casa. Que me move e me faz espirrar. Espiarei a sua vida, que mesmo longe, até que é parecida com a minha. Que quando perto, acho que é minha. Ninguém me pertence. Quero tudo o que não me quer. E deixo pra lá o que me deseja. O seu desejo morreu em mim, no meio do caminho, quando eu estava quase indo. Até aqui. Chegou? Demore, que por enquanto eu estou vivendo bem. Tudo bem? Com você. Está até fácil se viver. Aqui, tudo que chega, não basta. Não quero de graça. Me abraça. Agora já vou, quero que venha. Esqueça essa dor. Passou.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Escrevendo com a ponta dos pés

  Eu pensei que eu dominava a dança e que meus pés ouviam atentamente aos meu comandos. Eu pensei que eu dominava o balanço do meu corpo, que eu dominava os passos, os braços, o espaço. Eu pensei que eu era dona de mim, do meu querer, das minhas vontades. Eu errei. Eu não domino a dança, a dança é que me domina por inteiro. Meus pés não ouvem a minha voz, porque eles ouvem a minha alma. Minha voz se cala, não sai. Não falo. Não consigo pensar, não consigo raciocinar. Sou toda sentimento, sou toda emoção. Danço por instinto. Não tenho saída. Danço porque preciso de um tempo só meu. Preciso de um tempo pra parar tudo o que está acontecendo dentro de mim. Preciso de um tempo pra parar de respirar e ainda assim me sentir mais viva do que nunca. Preciso de um tempo pra desobedecer a gravidade, pra fugir do barulho do mundo. Preciso de espaço para girar e mudar de lugar sem me perder. Preciso ouvir a música que toca no meu interior. Não mando em mim, não sigo o normal, não fico parada. Não sei fazer por fazer. Não consigo pegar a senha e aguardar. Danço na fila. Não sei esperar terminar de almoçar. Danço enquanto almoço. Danço enquanto durmo, danço enquanto sonho. Danço porque sonho.