terça-feira, 31 de julho de 2012

Adeus no modo imperativo

  - Então deixe suas malas aí em cima mesmo. Não me arranje mais problemas. Deixa tudo como está, melhor você nem voltar. Desde a sua partida não ligo mais pra vida. Quem quer saber? Pergunto. Sem esperar resposta. O que te importa? Você saiu, nem me deixou um bilhete. Você saiu, nem me ligou. Não atendo mais, não me conte. Não me encontre. Saia logo do meu mundo, aqui não tem mais espaço pra você. Saia logo dessa casa, quero novos habitantes, não mais meros visitantes. O meu coração não suporta visitas. Não suporta despedidas. Vai logo de uma vez. Pegue o próximo trem da estação e deixe em paz meu coração. Larga a minha mão. Agora quero andar sozinha.

A escolha de Olívia

Olívia Palito
De tão leve
voou
com o vento
e o pensamento.
Bateu de frente,
trazendo à mente
a lembrança
ardente.
"- Tu me queres quente?"
Olívia perguntou.
Mas deu dor de dente
e ela chorou.
Nem se quer beijou
e ele já ligou.
Mas Olívia preferiu 
a solidão.

Alô

  Hoje estou com pressa de novo. Estou correndo, outra vez. Outro dia. Novo, talvez. O mundo gira e nada volta para o lugar. Não quero escrever hoje. Estou muda. Não quero ouvir ninguém também. Não quero regras, não quero gente. Não quero quase nada. O nada é muito. Quem fala? Agora. Depois não vai ser mais. O mesmo. Percebo que o mundo todo parece correr também. Quer falar com quem? Ninguém. Me escuta. Quero ver se alguém se embriaga de coragem e faz uma lavagem nessa gente. Inteligente. Corre. Apressa o passo, que a gente está sem tempo. Corre. Está chegando a hora da hora acabar. Se joga no esgoto, já chegou agosto e o tempo se esgotou. E nesse movimento, acabamos fazendo tanto e não fazendo nada. Boa tarde. Me invade. A loucura toda, que se embaralha por entre todos nós. Somos até fortes, para aguentar a morte. Boa sorte.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Sem graça

Calma
Vamos manter a calma
Que graça tem?
Ninguém sabe, meu bem
Dando risada
da vida
nojenta
Se ausenta
Pra não ver nada
Não é?
Que estranho
Você
Que diz
que me quer
quando não quer nada
E do nada
Ela surgiu 
assustada
Você não é encantada, viu?
Você não é nada
Agora vamos parar.
Fica quieto ai, todo mundo!
Que o mundo 
resolveu 
gritar.

Literalmente de volta

  Perdoem o meu sumiço. Estava viajando por dentro de mim. Viagem louca que me fez perder o tempo de voltar. Queria morar lá. No interior da minha alma, que às vezes se cala pra disfarçar a gritaria. A jaula, que prende alguns, me fez sair pra dançar. Eu, que não sei dançar, mas consigo até ficar na ponta do pé. Enrolo um pouco, de um lado para o outro, seguindo a canção. Descomplicando a vida, que é ridícula e me faz pensar se realmente é o que eu escolheria. O único momento em que me sinto viva é quando eu danço. Todo o meu corpo entra em sintonia para agradecer o prazer de viver. Sinto a ponta dos meus pés sorrindo e minhas mãos acompanhando a alegria. O que seria de mim sem a arte de dançar e transformar minha vida ao subir no palco? O que seria de nós, pobres humanos de cabeça oca, sem os nossos sonhos? O que seria de mim sem o sonho de voar? E eu saiu voando, com o corpo balançando, sem querer mais parar. E eu descubro que eu poderia ficar ali a minha vida toda. Eu descubro que felicidade não tem preço e que eu não trocaria nada desse mundo pobremente capitalista pelo arrepio doce, pelo sorriso incontrolável, pelas batidas mais fortes do meu coração, que a dança me proporciona. Eu não trocaria nada por alguns minutinhos em movimento, em cima do palco, com as luzes brilhando, acompanhando minha alma dançar.

domingo, 22 de julho de 2012

Qualquer coisa

  Não quero entender. Só quero viver. Sério. Não faço questão de nada. Só da felicidade. Só de um arco-íris no meio da cidade. Só um beijo, sem vaidade. Só dez anos de idade. Não quero saber tudo. Só o necessário. Só o importante, o interessante. Agora que voltei, quero que fique. Só uns minutinhos. Só o suficiente. Só o tempo de matar a saudade. Ainda que ela não morra. Ainda que o tempo corra. Contra nós. Ainda que não dê tempo. Mesmo com tanto vento. Quero que fique. Quero um pouco do som do seu silêncio, que é como um acalento para meu coração confuso. Quero que sente e chore, por esse amor que não morre e que da gente corre. Quero que ande devagar, pra eu te acompanhar. Nessa estrada, sozinho você não pode andar. A viagem foi longa, mas aqui estamos, com tantos planos. Vamos nos juntar? Que essa vida é quase um engano pra quem só sabe sonhar. Por onde andei, enquanto você estava parado, com os olhos fechados, sem niguém pra te guiar? Por onde andei, enquanto comigo você não podia estar? Perdi o mapa, mas sei perfeitamente aonde eu quero chegar. E enquanto eu não chego, fecho os olhos e vou sonhar.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Pequena oração

  Quero agradecer, meu Deus. Obrigada. Por tudo, de verdade. Porque, do nada, comecei a sentir uma alegria inexplicável. E o que deixava meu coração tão aflito, já não pertuba mais o meu sono. Sei que dizem para não ficarmos espalhando nossa felicidade por aí, mas quem se importa? Nada mais me preocupa, porque quase tudo passa e, às vezes, ficamos tão focados nos nossos problemas que não damos atenção para as poesias da vida. Estou feliz de verdade. Sabe-se lá o porquê. Estou rindo à toa, rindo fácil. Rindo de tudo, ainda que nada entenda. Rindo do nada, rindo de nada. Rindo da vida, que tentou me dar uma rasteira e não conseguiu, porque eu sei voar. Rindo das minhas asas, batendo apressadas, tentando fugir. Rindo da fuga, que já não me pertuba e trás um alívio que achei que eu não fosse conseguir. Nada me preocupa mais. Não vale a pena, acreditem em mim. Uma das coisas que mais me deixava irritada eram os deveres de física. Estou com várias páginas de questões para resolver, não sei absolutamente nada do assunto, mas estou tranquila. Se o estresse me fizesse tirar uma nota boa eu ainda tentava. Mas não. Motivo pra ficar triste todo mundo tem, mas também temos motivos para ficarmos felizes. Aliás, acabei de notar que eu estou feliz sem motivo algum. Que sensação maravilhosa, que leveza! Por favor, meu Deus, me deixa feliz para sempre! Renova a minha alegria a cada nascer do sol. Faz viver dentro de mim essa magia de encarar a vida com fantasia. Me deixa com esse sorriso bobo, que foi tão difícil de conseguir. Não larga a minha mão, Deus. Te confiei meu coração, pra ninguém mais me machucar. Sinto como se estivesse pisando em um tapete enorme de nuvens, dançando com os passarinhos, bailando pelo céu, ao som do vento. O sol vem trazendo luz e aquecendo meu coração, quase gelado. E eu pedindo perdão por não dar valor pra essa linda imensidão. Me deixa sempre assim. Aquecida. Viva. Com a esperança de só esperar o melhor. Sem pressa. A eternidade é logo alí. Adeus, estou aqui só de passagem.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

A lenda dos palhaços

Era uma vez
uma cidade.
Ninguém sorria,
niguém chorava.
Cidade lotada 
de homens fantasmas
de alma vazia.
Certo dia
No dia errado
nasceu uma menina.
Ela cresceu 
e se apaixonou
por um lindo rapaz
que não era lindo
porque só era lindo.
Esse rapaz descobriu
sobre os sentimentos
da linda menina,
que era mais que linda.
Porém
ninguém daquela cidade
era acostumado a ter
sentimentos
quando viram a menina
chorando pela dor
de amar,
riram.
Pela primeira vez 
na história daquela 
cidade
as pessoas tiveram alguma
emoção.
A partir daí
todos
começaram a fazer 
a menina chorar
para ter um pouco 
de graça na vida.
A doce menina,
de tanto chorar,
ficou com o narizinho
todo vermelho.
Daí surgiram os palhaços:
Pessoas tristes,
com o nariz vermelho,
e que fazem os outros rirem.

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Também sei voar

 Por que logo um passarinho fez meu coração bater mais forte? Eu podia me apaixonar por qualquer ser que habitasse essa terra. Por que não um cachorro, que quer carinho o tempo inteiro e não se vê longe da sua dona? Por que logo um passarinho, que precisa viver livre? Que precisa do horizonte, do céu aberto. Por que você quer o mundo inteiro? O meu mundo não te basta? Morar na minha casa já não seria suficiente? Prometo não te prender em nenhuma gaiola, embora meu coração já pense em te deixar preso lá pra sempre. Mas não farei isso. Tenho total consciência do problema que eu poderia arranjar. Arranjo um canto só seu. Se você for só meu. Lindo passarinho, o seu doce canto me encantou e daria a vida em troca da sua cantoria. Se você tivesse me avisado que gosta tanto de viajar e ser livre, eu teria te falado que sou uma borboleta e conseguiria te acompanhar sem problema algum. É que sua companhia é suave. Sou capaz de pegar o céu inteiro pra te dar. Voe comigo um pouco. Segure na minha mão, se você cair, eu vou te segurar. Liberte-se ao meu lado, que eu quero ver suas asas batendo mais forte. Eu também sei voar. Me avise quando voltar.

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Cadê você?

Silêncio
Não grite
Ninguém escuta
O barulho
Da sua alma
Gritante
Ofegante
Vai voltar?
Respire
Sinta o cheiro que ficou
Do que se foi
Se
Não deu
Não foi
Era bom
Que fosse
Algo assim
Querendo ou não
Não querendo querer
Embora
Queira tanto
O tanto 
Sobraram tantas palavras
Guardadas
Escritas
Não lidas
Ninguém leu
Silêncio
Tem gente aqui
Vamos embora
Que o barulho está me deixando louca
Me deixou
Você
Cadê?

Um livro rabiscado

  É bom deixar logo avisado que meu lugar é aqui. Sem muita demora. Não sei. Pergunto. Esqueço. Outra vez. Volte. Voltou. Na hora errada. Errado. Você, que dizia não querer saber se era o certo. Está certo. Está bem. Não devo nada à ninguém. Fica na sua. Eu fico na minha. Vamos ficar juntos? Vamos embora, que deu nossa hora e na sua casa eu não posso morar. Mora aqui comigo, que o tempo precisa passar. Calada fico, nesse mal estar de quem não quer nada, por saber que não vai ter. Me engano, como uma mãe que diz ao filho que ele veio da cegonha. Vergonha. Minto pra mim e acredito em cada palavra escolhida cuidadosamente pela minha mente. Acredita? Acordo perdida, com uma ferida de quem não sabe se viveu ou sonhou. Um conto de fadas. É pedir demais querer viver feliz para sempre? Tem que ler o livro todo! Eu li e me apaixonei pela história. Te empresto o livro com as minhas anotações que é pra ver se você entende o que eu quis dizer quando não disse nada. Que é pra ver se você sabe me ler quando eu estou calada. Me leia. Se tiver coragem. Perceba como cada linha foi escrita com todo o cuidado. Perceba o som de cada palavra utilizada. Veja que cada texto tem o cheiro de saudade. Volta pra essa cidade, que ficou vazia desde a sua partida. Me espera, eu vou com você. Me leva, eu quero te ler.

domingo, 1 de julho de 2012

Último texto com 16 anos

  Estou correndo contra o tempo, porque daqui a pouco é meu aniversário, já passou das 23h do dia 1° de Julho e eu quero fazer meu último texto com 16 anos. Dia 2. Eu, sempre par. Procurando um complemento pra tudo. Ou querendo tudo em dobro. Eu sempre quero a mais.  Acabei de me tocar que eu realmente me encaixo perfeitamente nessa data. Dois. Eu, que sempre procurei alguém, mas nunca me encontrei. Eu, que sempre reclamo que o mundo anda muito incompleto, no fundo, no fundo, não tenho ideia do que seria meu real complemento. Passo a vida buscando o que acrescentar em mim. Talvez nunca ache, porque a graça é estar perdido e encontrar-se tornaria a vida sem objetivo algum. Embora eu seja uma louca apaixonada por encontros, desses que não programamos, nem imaginamos, mas amamos. Dois de Julho. Uma das datas que mais mechem com o meu emocional frágil. Independência da Bahia. Liberdade. Eu, que nasci com a certeza de que sou uma borboleta. Que bato asas pelo mundo e vou com o coração apertado, olhando para trás, com o vento batendo contra as minhas asinhas pequenas. Voando, com a certeza de que estou cada vez mais próxima de chegar ao meu castelo encantado. Mas o tempo está me enganando. Dezessete anos é uma idade muito pesada. Agora minhas lágrimas escorrem, ao notar que o tempo passa rápido demais, mesmo contra nossa vontade. Me lembro quando eu fiz 15 anos e desejei que aquele momento nunca acabasse. Mas acabou, assim como outros milhares de momentos que eu implorei ao mundo que parasse, que eu implorei por piedade. Desacelerem, por favor. Porque eu vou em uma velocidade um pouco menor, que é pra dar tempo de sentir o cheiro de todas as flores que eu encontro pelo caminho. Olhem todas essas flores! Duvido que alguém já tenha ouvido as histórias que elas têm pra contar. Assim como eu, ninguém nunca ouviu todas as minhas histórias. Nem queiram. Hoje, quase com dezessete anos, 189 anos depois da Independência, sinto que agora chegou a minha vez. Independência ou independência. Não tenho escolha. Assim como abandonei o útero de minha mãe, abandono esse casulo, na esperança de voar ainda mais alto. Quero voar o dobro, afinal, tenho duas asas.