domingo, 26 de fevereiro de 2012

O que é isso?

(Foto por: Mariana Barreto)

  Acredito muito que a nossa felicidade é construída segundo a nossa vontade. Acredito muito no poder que a gente tem de escolher ser feliz. Me pergunto se nós, a mais nova geração desse planeta de tamanha alienação, sabemos o que é isso. Mal sabemos o que é escolher, quem dirá o que é felicidade. Não estou dizendo aqui que somos infelizes, de jeito nenhum. Ou talvez eu esteja. Dane-se. Todos nós sabemos que não corremos atrás da nossa felicidade. Todo nós sabemos que a gente desiste na primeira esquina dobrada errada, na primeira lombada, na primeira topada. Cansamos rápido, queremos rápido, passa rápido. Maldita sociedade conformada! Somos a geração da poltrona. Ficamos sentados, vendo televisão e deixando nossa mente empoeirada. Não precisamos mais pensar, já reparou nisso? Nos entregam tudo mastigado. Digerimos lixo. E o que se pode esperar de nós? Somos a tentativa de acertar os erros dos nossos pais. Às vezes tenho certa inveja das gerações passadas, que lutaram até o fim pelos seus direitos. A gente luta pelo quê? A gente defende o quê? "Ideologia? O que é isso? Novo aplicativo? Marca nova de celular?". "Amor? Isso existe?". Será que ainda temos coragem de amar? Ou ao menos sabemos o que é isso? Trazemos na veia o medo se apaixonar, aprendemos desde pequenos que isso é uma roubada, sabemos de cor e salteado que amar dá problema. E nem pelo tal do amor a gente luta mais. Nascemos sem armaduras, nascemos sensíveis, já nascemos feridos, destruídos. Me indigno com a falta de forças que nós temos pra receber mais um arranhãozinho. Seria necessário saírmos por aí, abrindo as cabeças de todo mundo e avisar: "Corram atrás dos seus sonhos!". Correr... Sonhos... O que é isso?

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Não tenho tempo (Desabafo - Parte II)

(Foto por: Mariana Barreto)
  


  A Apple bem que podia inventar um novo aplicativo para coçar as costas, do jeito que ando não tenho tempo pra isso. Não deu tempo nem de olhar direito o nascer do sol, que estava lindo, nem pro passarinho que estava cantando na minha janela. Já eram 6:35h da manhã, eu pego carona às 6:40h, tenho 5 minutos para correr do elevador até o prédio de minha amiga. Pegamos um engarrafamento de mais ou menos 10 minutos, temos mais 5 minutos para sair do carro, correr pelo portão, passar pela portaria e voar até a sala, pra chegar antes do professor, temos uns 2 minutos pra escolher o melhor lugar na sala, cumprimentar todo mundo, e quando nos damos conta já deu 7h e a aula vai começar. Passamos a manhã inteira correndo, copiando rápido o assunto que está no quadro, anotando rápido na agenda os deveres para a próxima semana, resolvemos rápido as questões de física, não lemos o enorme texto de sociologia, nem deu tempo do professor de literatura citar mais exemplos da terceira geração do Romantismo. Pra falar a verdade não deu tempo de lanchar, tive que enfiar todos os biscoitos de vez na boca, pra depois correr no banheiro e no bebedouro... ainda cheguei atrasada na penúltima aula. Aliás, nem ví que o tempo passou tão rápido, nem ví que já estava naquele colégio há mais de 4 horas. Nem deu tempo de olhar no relógio. Nem deu tempo de avisar pra todo mundo que, do fundo do meu coração, eu não queria estar alí, que eu realmente preferia estar por aí, vivendo, fazendo coisas mais importantes que saber que o trabalho de uma força peso é o valor da massa vezes o valor da gravidade, vezes a altura. Esquecí de dizer pro professor que eu nunca calculo o módulo do trabalho do meu peso quando subo as escadas do meu prédio. Será que ele tem tempo de ficar calculando a força do trabalho que o motor do carro dele faz? Será que eu sou a única pessoa que conseguiu sobreviver 16 anos sem saber que as células cartilaginosas são binucleadas? Será que quando eu estiver entrando num ônibus o cobrador vai perguntar: "Thomas Hobbes era teórico absolutista ou liberalista?". Ou será que quando eu pedir um suco numa lanchonete a garçonete vai me perguntar qual a quantidade de mol de H2O que eu quero? Imagine se uma mulher grávida estivesse chegando no hospital pra ter filho e o médico dissesse: "Olha, só poderei fazer o seu parto depois que você responder essa pergunta básica: Qual a diferença entre os pequenos e grandes lábios?". Será que o mundo tem tempo pra tanta informação, será que conseguiremos acompanhar essa rapidez, essa velocidade desastrosa? Será que ainda temos tempo pras coisas simples? Ainda dá tempo de cantar no chuveiro? Mal temos tempo para nós mesmos, que acabamos não vendo o que acontece ao nosso redor, não dá pra viver os momentos, não dá pra viver os lugares. Tudo passa voando, mas cortaram nossas asas.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Desabafo

A escolha foi completamente sua. A escolha de ter deixado eu escorrer pelos seus dedos. A culpa foi sua, de ter me largado nesse mar revolto, sem um pingo de paciência pra essa droga que é a vida. A culpa foi sua, por me deixar imundamente despida do amor. A culpa foi completamente sua, por não me deixar acreditar em mais ninguém, em mais nenhuma palavra, em mais nenhum sinal do amor, se é que essa coisa existe. A culpa foi exclusivamente sua, por me fazer acreditar no que nunca existiu. A gente nunca existiu, entende? A gente nunca foi nada! Nunca passamos de sonhos e meias risadas. Nunca fomos inteiros, nunca podemos ser completos. A gente se despedaçou, por não poder amar, por não poder se entregar. Nos perdemos, e esse caminho me parece sombrio demais para eu continuar sem você. Aliás, quem é você? Quem você acha que é? Será que você é verdade ou eu só te conheço pela metade? Só te conheço em partes, quando descubro mais um pouco de você, apodreço. Isso não faz parte do que você se dizia ser. Me deixa ir, me deixa em paz. Me deixa seguir em frente. Eu preciso tentar me encontrar, mas pra isso, você precisa sumir. 

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um brinde

  Sai daí! Esquece essa ferida, se entregue de novo à vida. Muda o foco, muda o rumo, troca de calçada, escolhe outra estrada. Felicidade é questão de escolha, menina. Acorda pra vida! Toma uma banho gelado, toma um café bem quente. Aguente. Um brinde à minha revolta! Um brinde ao esgotamento da minha paciência! Um brinde à renovação das minhas forças, do meu, tão esperado, crescimento. Um brinde à todos que se levantam mais fortes! Um brinde à minha intolerância ao sofrimento! Um brinde à nossas dores, que nos matam internamente, pra gente renascer, mais forte!

Ensaiamos demais

  Nem me esperou, nem ofereceu carona, nem me convidou para ir junto. Foi sozinho, com meus pedaços, me deixando ao contrário, me deixando pelo avesso, sem sossego. E não venha depois dizendo que eu tinha que ter esperado, não tenho mais tempo, não existe mais tempo. A viagem era sem volta, mas o mundo dá voltas e você vai voltar. Eu não vou estar lá. Abandonei o navio, pulei do barco, larguei o castelo. Fugi, morri, cresci. Crescemos, esquecemos. A gente sabia disso, a gente ia crescer e fomos morrendo em nós mesmos, sem querer, sem perceber que sabíamos, sem saber que poderíamos mudar isso. Sem conseguir alterar os nossos destinos, sem conseguir mudar a continuação do roteiro. Seguimos em filmes diferentes, pulamos cenas, esquecemos falas. Não ensaiamos. Ou ensaiamos tanto que na hora perdeu a graça, já sabíamos o final.

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Era pra ser só um sapato

(Foto por: Mariana Barreto)

  Você sempre volta e a revolta é te querer mais. Em um curto instante me pego passante das ruas do meu pensamento. "Jumento!- penso- por que voltou?". Senti seu encantamento no vento. Senti que era perigoso ir por essa estrada. Mas, como uma princesa, segui em frente, tentando manter leveza no caminhar. Não tinha dragão nenhum pra me pegar... Era meu próprio príncipe. E eu, que era para perder apenas um sapato, me perdi por completa. Odeio essa realidade, que insiste em mudar os Contos de Fada. 

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Outro tchau

  Abusei do subjetivismo pra te imaginar, usei as melhores figuras de linguagem pra te descrever. Sem você nem saber, sem eu nem querer. Me pergunto o por que, sem nem mesmo precisar entender. Sinto e pra mim isso basta. Ou bastava, mas agora isso pouco importa. Até porque, pra você, nunca importou. E pra mim, essa história acabou. Tchau, vou ler outro livro.

Sem título, pra fugir do igual

  Alguém me ensina a escrever, para eu botar pra fora esse meu doloroso querer de destruir tudo o que eu sinto dentro de mim. Queria triturar meus sentimentos, tornando-os palavras, mas quase não sei sobre gramática. Nada sei sobre literatura e corro da amargura. Esses dias são todos iguais, essa rotina que me prende ao previsível que eu não quero pertencer. Essa dor de ser tão humanamente burra (sem ofensas ao pobre animal) por aceitar pertencer à esse mundo assim, tão igualmente injusto, tão forçado a ser igual, que ser diferente virou sinônimo de liberdade. Embora não aceita, me aceito, porque se não eu, quem me seria? 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Vende-se

(Foto por: Mariana Barreto)


  Ei menina, não faça seu coração parecer aquelas casas com placas de "Vende-se", que ficam anos sendo visitadas, mas ninguém nunca compra. Faça seu coração ser como aquelas casas lindas, coloridas, bem cuidadas, aconchegantes, que quando alguém entra, fala: "Eu quero morar aqui!".

Querido Coelho,

(Foto por: Mariana Barreto)

  Não sei porque você decidiu morar aí na lua! Escrevo-lhe para pedir que faça o favor de se retirar daí de cima imediatamente! Que direito o senhor tem de servir como um teste do coração? Que direito o senhor tem de aparecer todas as noites, invadindo a janela do meu quarto? Que direito tens de me lembrar daquilo que eu quero esquecer? Que história é essa de que "quem ver um coelho na lua é porque está apaixonado"? Eu estou te vendo! Aliás, eu vejo, não só um coelho, mas também uma família inteira de coelhos e seus filhotes, comendo cenoura, num castelo enorme da Coelholândia! Imagino que todos vocês devem ficar rindo da minha cara de besta quando olho pra lua e descubro que esse tal coelho ainda está aí. Deve reunir a coelharada toda que mora aí pra ficar analisando as caras de apaixonados que olham pra lua e ficam felizes por verem um coelho. Para essas pessoas, que ficam satisfeitos em estarem nesse estado emocional fantástico e prazeroso, pode continuar aparecendo. Mas quando você ver alguém que não gostaria de estar nessa situação, se esconda atrás de alguma nuvem. Fuja! Vá dormir na casa de algum parente que mora no sol, ou pegue carona com algum passarinho que estiver por perto... Sei lá, dê seu jeito! Só não deixe nenhum coelho aparecer na lua, pelo amor de Deus! Olhei pro céu agora , para dar uma checada e percebí que você ainda não se retirou. Você terá mais uma chance amanhã. Espero que isso não se repita.


Um beijo, 
Mariana

Estou de greve

(Foto por: Mariana Barreto)
  
  Não receber pagamento, não ser recompensado, não ser valorizado... Tudo isso resulta em greve! Nunca tinha visto a mídia falando tanto, e somente, nesse assunto. E meu coração adorou e aderiu essa ideia. O coitado cansou de trabalhar a vida inteira, amando, e nunca receber o tratamento que merece. Pelo menos ele está de greve... Imagina se ele resolve se aposentar!

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Veja bem, meu bem

  Mas você não estava percebendo que toda essa suposta raiva era de dor. A dor de ter que conviver o futuro desacompanhada. A dor de não te ter. Esse foi o único jeito que eu consegui demonstrar, e você não conseguiu me ler, você nem percebeu que o meu livro tinha páginas arrancadas, para que você não descobrisse o meu segredo. Segredo no qual você tinha que, pelo menos, desconfiar da existência, para que pudesse começar a me entender.

Delet

 E agora acabei de me desfazer dos meus rascunhos antigos, que só me lembravam você. Fui obrigada a apagar um por um, tentando fazer o mesmo com seu cheiro, que insiste em invadir meu território. Tentando expulsar de mim todas as lembranças que eu tenho do seu sorriso. Como se deletando os arquivos, eu fosse te deletar também. Quem dera.

Pode entrar!

(Foto por: Mariana Barreto)
  
  Não sei o motivo pelo qual eu não suporto levar meu cachorro para passear. Deve ser porque, apesar de ter 12 andares, o elevador demora como se o meu prédio tivesse uns 50. Então lancei-me um desafio: sempre que eu chegasse em casa, após o passeio com o meu cãozinho, eu teria que escrever alguma coisa. Ideia adorável! A atividade que eu menos gosto, seguida da que eu mais amo.


  Ótimo! Um problema já foi resolvido, agora eu só precisava saber sobre o quê eu escreveria. O único assunto que veio na minha mente foi o quanto eu acho absurdo o fato de sempre encontrar montanhas de cocô de cachorro largados pelo meio da rua, mas seria cansativo escrever sobre isso todos os dias. Deixei esse questionamento, feito mentalmente por mim mesma, de lado, peguei a coleira de Fred, arrastei-o até o hall do elevador e descobrí que tinha apenas um elevador funcionando.


  Pronto! Vou escrever sobre o quanto eu odeio descobrir que só tem um elevador funcionando! Junto com essa notícia veio a imagem da um elevador lotado, com um monte de gente gritando no pé do meu ouvido e me empurrando. Expulsei esses pensamentos amedrontadores e fiquei quieta, esperando. Meu elevador que demora, normalmente, 2 à 3 dias para chegar, hoje deveria demorar de 5 à 6 meses.


  Mas como a única coisa que eu não posso deixar de fazer na vida é descer com meu cachorro, fui obrigada a esperar. O meio de transporte que me leva do meu andar até o térreo estava parado no último andar(12°), como eu moro no 7° não deveria demorar tanto assim. Engano meu. Já estava quase desistindo, quando ouví o barulho da porta automática se abrindo. Finalmente o elevador tinha chegado.


  A minha felicidade durou 2,5 milésimos, porque foi o tempo de meus olhos perceberem que o elevador, como eu imaginava, estava lotado. Olhei para todos os guerreiros que estavam lá dentro, desconfortavelmente espremidos, suspirei e disse um singelo "boa noite", que veio acomapanhado da minha cara de decepção ao afirmar, com toda a dor do mundo, que o elevador estava cheio.


  Quando eu pensei que o meu dia estava arruinado, atrás de todas aquelas pessoas que estavam torcendo para o elevador fechar logo para cada um seguir sua vida, surgiu um par de olhos, uma menininha tão doce, com uma voz que soou como uma música aos meus ouvidos, falou: "Pode entrar!". 


  Incrível que, diante da "mesma visão", todos os adultos tiraram a mesma conclusão de que o elevador estava cheio, enquanto a única criança teve a sensível ação de espremer-se, ainda mais, contra as pernas de sua mãe e perceber que tinha como dar um jeito. Eu e Fred decidimos esperar mais um pouco e sorrimos agradecidos, enquanto a porta do elevador se fechava lentamente.


(Texto feito em: 23/01/2012)