quinta-feira, 13 de junho de 2013

Meu vômito

  Não quero fazer parte desta vida corrida que traz uma ferida no peito de todos vocês. Não quero me render à esse capitalismo exagerado onde todo esse povo luta por um degrau mais alto no "hall da fama". Não quero ser escrava de toda esta disputa, malícia e maldade. Não quero me obrigar a pensar tão friamente, calculando todos os erros que eu posso cometer e evitá-los. Quero ter o direito de errar, em uma sociedade que o erro leva à morte. Não quero ter que matar os meus desejos tão sensíveis, nem assistir a destruição do meu ser interior, em troca de algumas moedas. Não quero ter que abrir mão do que eu penso para agradar uma elite que em nada me acrescenta. Não quero ter que desistir do que eu sonho fazer pra conseguir me manter ou tentar manter uma aparência que não é minha. Não preciso de uma máscara pra esconder meus princípios. Não preciso deste lixo pra completar o vazio que o mundo nos oferece. Não preciso deste mundo, já inventei o meu.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Nome: Terceiro ano do Ensino Médio, número 33, matutino, 2013

    Essa questão você não pode errar. Esse assunto você tem que lembrar. Não pode esquecer de transformar. Corta. Soma com esse. Página 22. Módulo 3. Não pode perder tempo. Façam essa questão ai. Tá perdendo tempo. Não tem mais tempo. Não é hora de brincar. Ninguém está brincando aqui não. Rápido. Senta logo ai. Confiem em mim. Vai dar tudo certo. Vocês vão errar essa questão, que eu sei. Presta atenção. Vocês estão me ouvindo? Não pode errar essa questão. Essa questão foi de graça, essa outra foi dada também. Quem errou? Quem acertou todas? Quem quer medicina? Estudem. Próxima. Você ai, troque de lugar. Não tem tempo pra conversa. Tem que lembrar disso. Vocês não precisam saber disso não. Quem vai fazer medicina? Tem que saber pelo menos essa parte. Copia logo. Licença. Copiaram? Esse é um dos assuntos mais importantes do ano. Vai cair no Enem com certeza. Essa questão é do Enem. Não pode errar isso, viu? Tem que lembrar. Quem quer medicina? Como é seu nome mesmo? Medicina? Quem vai fazer medicina? Se errar isso já era. Adeus vaga na universidade. Quem quer engenharia e direito? E quem quer medicina? Jornalismo. Viu. Mais alguém quer medicina? Já estamos no módulo 4, em menos de um mês. Não temos tempo. Se não tiver segunda fase vai ficar quase impossível de passar. Não pode esquecer isso. Quem quer medicina? Observação! Posso falar? Vai fazer o que? Estudem. Tem que ser rápido, não tem nem tempo pra pensar. Área 1: isso aqui tem que saber, vão revisar logo no primeiro semestre da faculdade. Não pode errar. Seu concorrente deve estar estudando. Vai fazer medicina? Não pode errar essa. Não pode errar. 
   - Dá tempo de sonhar, rapidinho?

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Você não pode saber

Finjo que não quero,
que não te espero,
mas paro meu mundo 
ao ver você chegar.

Finjo que não te desejo,
que nem te vejo,
mas meus olhos brilham 
ao te ver passar.

Finjo que já te esqueci,
minto que já me conformei
mas meu coração nega
e um dia eu me entrego de vez.

Falo besteira até você dormir,
mas guardo bem no fundo
aquilo que você tanto quer ouvir.
Finjo que não sei.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Balde cheio

  Derramo-me. Aos poucos. Se afoguem comigo no meu mar de ânimo e bebam do meu suco de vida. Nade aqui também, nesse poço raso de palavras fundas. Nade aqui também, nesse nada. Que é tudo, se der. Nem sempre dá. Me dê também. Quero que fique e se derrame de vez, até se ver diluído em mim. Até não ver você. Até correr de mim. E eu correr também. De você. Atrás dos meus sonhos. Fugimos, um do outro. Atrás dos nossos sonhos. Ficamos para trás. 

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Que novos sejamos nós

  Hoje, como em todas as férias de início de ano, fiz uma faxina geral no meu quarto. Fui tirando os entulhos, a poeira dos ursinhos de pelúcia, os papéis velhos, tudo que só estava contribuindo para minha bagunça. Fiquei me estudando, analisando minha reação ao ter que me desfazer de certos objetos. É cômico como nos apegamos à tudo. E ao mesmo tempo não somos donos de nada. Por conta da minha alergia, peguei meus bichos de pelúcia que comprei em uma viagem, e guardei todos. Fui colocando um à um em uma sacola plástica, com a maior dor no coração. Não quis dar para ninguém, nem para minha irmã. Guardei. Escondi. Eram meus, ainda que eu não usasse, ainda que eu não pudesse nem chegar perto deles. Espirrei algumas vezes, enquanto os escondia em um lugar que provavelmente  nem eu vou encontrar depois. Chegou a parte mais difícil: lápis e canetas. Para o meu desespero, minha irmã mais nova abriu a caixa que eu escondia embaixo da cama com todos os tesouros que eu uso para escrever. Antes que tudo sumisse e eu tivesse uma crise nervosa, arranquei a caixa da mão dela e corri. Corri de mim. Com medo de que eu me lembrasse que eu só escrevo com uma mão e não preciso desse exagero de materiais. Ouvi de longe meu pai apostando que nem metade daquelas canetas estavam funcionando. Ignorei, ele e meus pensamentos. Voltei à arrumação de papéis, outra etapa de fogo. Cada papel tem sua história, tem suas palavras, seus textos. Fui rasgando alguns, guardando muitos, escondendo outros. Acabei. Acabei reparando que eu sou um lixo. Agora sentei para escrever, tentando reciclar-me e abafar meu egoísmo. Perguntei-me se eu merecia ser assim, tão humana. Todo ano começo fazendo listinha de desejos para o ano novo. Pedidos, pedidos, pedidos. Pedimos, ganhamos e continuamos sem nada. Um nada. Quem somos? Lixo. Resto. Somos o resto das coisas que o mundo nos impõe. Ninguém é o que queria ser. Ou é? Que ser é você? Pedimos para nós. No máximo para nossa família e nossos amigos. Ganhamos. Ganhamos o mundo e nos perdemos. Quem é feliz? Aquele que se encontra? Aquele que doa um pouco da sua pena à alguém, aquele que se comove com a pobreza ou que tem ódio da injustiça? Moleza. Fácil. Quero ver largar a vida, pelo outro. Pelo amor ao outro. Pelo amor. Quero ver enxergar o outro. O outro, fora do carro, no meio da rua. O outro, fora da casa, embaixo da chuva. O outro, fora do hospital, sem vida. Quero ver doar sua vida. Quero ver eu doar a minha vida. Quero ver. Que esse ano, e em toda a nossa vida, possamos nos doar. Sem dor. Sem dó.