quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Pode entrar!

(Foto por: Mariana Barreto)
  
  Não sei o motivo pelo qual eu não suporto levar meu cachorro para passear. Deve ser porque, apesar de ter 12 andares, o elevador demora como se o meu prédio tivesse uns 50. Então lancei-me um desafio: sempre que eu chegasse em casa, após o passeio com o meu cãozinho, eu teria que escrever alguma coisa. Ideia adorável! A atividade que eu menos gosto, seguida da que eu mais amo.


  Ótimo! Um problema já foi resolvido, agora eu só precisava saber sobre o quê eu escreveria. O único assunto que veio na minha mente foi o quanto eu acho absurdo o fato de sempre encontrar montanhas de cocô de cachorro largados pelo meio da rua, mas seria cansativo escrever sobre isso todos os dias. Deixei esse questionamento, feito mentalmente por mim mesma, de lado, peguei a coleira de Fred, arrastei-o até o hall do elevador e descobrí que tinha apenas um elevador funcionando.


  Pronto! Vou escrever sobre o quanto eu odeio descobrir que só tem um elevador funcionando! Junto com essa notícia veio a imagem da um elevador lotado, com um monte de gente gritando no pé do meu ouvido e me empurrando. Expulsei esses pensamentos amedrontadores e fiquei quieta, esperando. Meu elevador que demora, normalmente, 2 à 3 dias para chegar, hoje deveria demorar de 5 à 6 meses.


  Mas como a única coisa que eu não posso deixar de fazer na vida é descer com meu cachorro, fui obrigada a esperar. O meio de transporte que me leva do meu andar até o térreo estava parado no último andar(12°), como eu moro no 7° não deveria demorar tanto assim. Engano meu. Já estava quase desistindo, quando ouví o barulho da porta automática se abrindo. Finalmente o elevador tinha chegado.


  A minha felicidade durou 2,5 milésimos, porque foi o tempo de meus olhos perceberem que o elevador, como eu imaginava, estava lotado. Olhei para todos os guerreiros que estavam lá dentro, desconfortavelmente espremidos, suspirei e disse um singelo "boa noite", que veio acomapanhado da minha cara de decepção ao afirmar, com toda a dor do mundo, que o elevador estava cheio.


  Quando eu pensei que o meu dia estava arruinado, atrás de todas aquelas pessoas que estavam torcendo para o elevador fechar logo para cada um seguir sua vida, surgiu um par de olhos, uma menininha tão doce, com uma voz que soou como uma música aos meus ouvidos, falou: "Pode entrar!". 


  Incrível que, diante da "mesma visão", todos os adultos tiraram a mesma conclusão de que o elevador estava cheio, enquanto a única criança teve a sensível ação de espremer-se, ainda mais, contra as pernas de sua mãe e perceber que tinha como dar um jeito. Eu e Fred decidimos esperar mais um pouco e sorrimos agradecidos, enquanto a porta do elevador se fechava lentamente.


(Texto feito em: 23/01/2012)

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