sexta-feira, 8 de junho de 2012

Dançando, não mais só

  Não falei nada. Era engraçado o momento, porque eu sentia que o meu corpo queria ficar ali pra sempre. E é uma pena ter que obedecer as leis do mundo, enquanto as suas leis internas são divergentes, enquanto o seu mundo tem um movimento de translação oposto. O eixo é outro. O planeta agora gira pra outro lado, em um embalo silencioso, que só se escuta calado. Fala-se pouco, sente-se quase tudo. Muito, eu diria. Ou talvez eu não saiba dizer. Não digo. Apenas escuto o silêncio da nossa respiração, que é tão agradável quanto um esparadrapo enrolado em uma sapatilha velha de ballet. O alívio ao sentir que a ponta do pé não queima mais por estar em contato direto com o chão. A sensação de não estar dançando sozinha no palco. A surpresa ao notar que os passos não foram ensaiados, mas por algum motivo são executados em uma sintonia impecável. A melodia da canção, que acelera o coração de quem dança. A dança que faz as almas bailarem, despreocupadas. A desocupação da mente, ao notar que aquele momento é precioso demais pra pensar em outra coisa. O pensamento que se desliga automaticamente no momento do encontro. O encontro, de quem não estava procurando nada, mas achou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário